Grécia: crise e eleição. Minhas opiniões
- Michelle Bastos
- 28 de jan. de 2015
- 3 min de leitura
Apesar de ter vindo para a Grécia após o início da crise econômica, o impacto que ela causou no país é claro. Sempre ao comentar com um grego sobre como o país é maravilhoso, a resposta sempre será: “era muito melhor antes da crise”. E eu tenho certeza disso.
Todo mundo tem uma história trágica para contar. O pai que passou a receber aposentadoria quase pela metade, o irmão que perdeu o emprego, as empresas que perderam boa parte dos clientes e consequentemente demitiram, as pequenas empresas que quebraram. E todos, que perderam o poder aquisitivo. O imposto cobrado sobre o salário hoje na Grécia, é de quase 25%. Digo isto com conhecimento de causa, pois é o que vem descontado no meu pagamento. E eu que reclamava dos aproximadamente 15% brasileiros. Sem contar os benefícios que foram cortados. Algumas pessoas contam, que até o aluguel era reembolsado pelo governo no imposto de renda.
Passado.
A sensação que tenho é que na verdade a Grécia viveu por um longo tempo com dinheiro que não tinha. Todos esses benefícios dados ao povo, vinham de um dinheiro que o país não tinha. Ouço todo mundo contar sobre benefícios que recebiam, e do imposto que “não” pagavam. Pra uns receberem, alguém tem que pagar, né? Deixo claro que digo isso sem nenhuma base confiável ou conhecimento profundo de economia ou política. São só impressões minhas do que vejo.
Quando a crise eclodiu em 2009, a divida pública era de 127% do PIB do pais. Imagina isso! Tudo que o país produz em um ano, não era suficiente pra pagar o que eles deviam, imagina pra pagar e viver. Desde então, em conjunto com a União Europeia, começaram a praticar uma política de austeridade, que nada mais é, do que corte de gastos do setor público. E também pelo o que escuto falar, rolava uma farra com o dinheiro público, corrupção, nepotismo, excesso de servidores públicos que se ajudavam a fazer nada.
Entretanto, cinco anos de sofrimento foram puramente em vão, já que hoje a divida eh de 176%. Ou seja toda a economia, que quem sentiu foi o grego no corte de benefícios e serviços públicos, adicionados a 240 bilhões injetados pela União Europeia no país durante esses anos, não resultaram em nada.
E pior, agora, a Grécia supostamente deve começar a pagar esse dinheiro. Missão impossível! E o que vejo aqui é uma situação muito pior do que quando cheguei em 2013. A própria empresa que trabalho demitiu 4 funcionários de 15 na semana passada.
Em meio a tudo isso, não foi de se surpreender que o Syriza, um novo partido de esquerda, tenha sido eleito com ampla vantagem mediante a uma campanha realizada pregando o fim da austeridade e o cancelamento de parte da dívida.
Já ouvi muitos gregos defenderem a saída da zona do Euro. Segundo eles, uma moeda própria facilitaria na manutenção da economia já que, sujeitos ao Euro, se equiparam a grandes economias como a alemã, cujo a Grécia não tem como acompanhar.
Agora é esperar para ver.
Mas me colocando no lugar dos gregos, imagino o quão sofrido tem sido. Por mais que o Brasil esteja muito longe da perfeição, vivemos num país que melhora a cada dia. As oportunidades que temos hoje são muito mais amplas do que a que nossos pais ou avós tiveram. Aqui é o contrario. A nossa geração cresceu vendo os pais, tios, avós, tendo oportunidades, sempre com os melhores carros, casas, viagens. E agora, quando chegou a vez deles, eles não conseguem sequer um emprego que o permita fazer as despesas pessoais morando na casa dos pais. A taxa de desemprego entre os jovens aqui é de 50%. Imaginem como eles se sentem.
Em meio a crise, dividas e tudo mais, uma coisa eu tenho que assumir que a Grécia deu um show. Durante o período eleitoral a poluição visual e sonora é ZERO. Se você não está antenado na internet ou na TV, você passa o mês das eleições aqui sem saber que ela esta pra acontecer.
Se a minha vida aqui é impactada pela crise? Sim, muito. Mas posso dizer que no meu caso até positivamente. Com a crise do Mercado grego, as empresas passaram a buscar o Mercado internacional, entre eles o Brasil, na qual consideram como um dos mais promissores. Por isso estou aqui. Ponto pro Brasil!
O post reflete minhas opiniões e, exceção aos números, é baseado única e exclusivamente na minha vivência. Não sendo nada oficial, considerando principalmente meus superficiais conhecimentos de política e economia. Qualquer opinião (mesmo que contrária), será bem vinda!
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