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Como é morar em um país muçulmano?


Morar em outro país, sempre dá início a uma série de descobertas e aventuras. Algumas daquelas que se quer “guardar em um caixinha”, de tão prazerosas e felizes, outras nem tanto, mas tanto quanto importantes para crescer e evoluir como pessoa.


Sempre classifico o Egito como um país intenso. E tudo que vivo, me tira praticamente o tempo inteiro da minha zona de conforto. Apesar de já ter morado em outros países, sempre eram culturas ocidentais, que de uma certa forma você tem um background e influências que te permitem sentir como um pedacinho do lugar. Foi no Egito que senti pela primeira vez um grande choque, tudo era novo. O país causa um aguçamento de todos os seus sentidos. Tudo que você vê nas ruas é muito diferente, não apenas arquitetura e roupas. O jeito das pessoas se comportarem, a forma que lidam com tudo e se tratam. O seu olfato e paladar precisam explorar aromas e sabores até então desconhecidos. E os seus ouvidos, precisam se acostumar com o barulho incessante. Já a sua cabeça, não para um segundo, tentando assimilar como as coisas se desenrolam por lá.


Quando falamos de países muçulmanos estamos falando de um grupo vasto, e não podemos colocá-los todos no mesmo saco. Então, meu texto fala sobre o Egito especificamente.


A experiência que você terá lá, no entanto, dependerá muito de onde você irá morar. Se for em um dos balneários do mar vermelho, é praticamente estilo de vida europeu. Caso você opte por morar no Cairo, dentro da própria cidade vai variar muito. Há alguns bairros e condomínios considerados “internacionalizados”, que são regiões mais ricas da cidade e permitem uma vida quase que sem mudanças e adaptações para nós brasileiros. Para citar alguns: Zamalek, Maadi e Heliópolis.


Entretanto, se esses bairros não estão ao seu alcance financeiro, morar em outras regiões vão te exigir muito jogo de cintura. Se tem uma coisa que para nós simboliza o islã, são as mulheres cobertas. Eu não me cubro como elas, cabelo e etc. Entretanto, os meus cuidados ao escolher uma roupa, devem seguir os critérios de cobrir até o pescoço, o braço todo, não importa o calor, a perna toda, e caso a calça seja apertada, a blusa deve cobrir o bumbum. É obrigatório? Não é. Mas eu te garanto que você não consegue chegar nem na esquina com menos do que isso. Você mesma sentirá mal. Não estou falando de olhares curiosos, os olhares dos homens egípcios são bem diferentes daquela olhadinha malandra de rabo de olho dos brasileiros, eles te encaram a tal ponto que chega a dar medo. Além dos olhares femininos de reprovação.


Entretanto, o que mais estranhei, foi me sentir privada da minha liberdade. Nunca saí de casa sozinha no Egito. Mas não digo sair para o bar com as amigas não, nunca fui nem no supermercado mesmo. Primeiramente, pelo assédio. Segundo, que mesmo se eu fosse, o mais longe que eu conseguiria chegar, seria onde meus pés me levassem. O transporte público egípcio é uma incógnita para qualquer estrangeiro, os taxistas não falam inglês (e não se pode confiar totalmente em todos eles) e dirigir também não é uma possibilidade como já contei. Se eu morasse em outra área da cidade, isso poderia ser totalmente diferente. Estou falando da minha experiência morando em Giza.


Quando me mudei, imaginei que prontamente nos horários da reza, todos parassem para rezar. E ficava super preocupada do que eu iria fazer. Imaginando que seria até um desrespeito, a família toda rezando e eu lá, olhando o Facebook. Me enganei um pouco. Raríssimas pessoas param para rezar cinco vezes ao dia e é uma coisa muito mais corriqueira do que eu poderia imaginar. Fui a um escritório com meu marido, ele entrou em uma sala e eu fiquei esperando ele na recepção. Deu o horário da reza e uns cinco funcionários vieram para recepção rezar. Enquanto eles estendiam o tapetinho, eu tentava calcular o que seria mais educado da minha parte fazer, já que eu seria a única no recinto que não participaria. Eu não sabia se eu saia, se eu ficava, se eu olhava, se eu olhava pro teto para não ficar encarando, se eu me oferecia pra rezar também e seguia eles toda atrapalhada, fazendo tudo com delay... Graças a Deus, meu marido chegou a tempo pra me salvar. E aí vieram outros funcionários lá de dentro falar com ele e simplesmente pularam por cima dos que estavam no chão rezando e falavam no volume egípcio –nas alturas- como se o povo nem tivesse ali rezando. E eu preocupada com a minha simples presença sentadinha.


Morar no Egito é também se acostumar que guerras e armas são coisas do dia-a-dia. Sem polemizar se isso está atrelado a religião ou não, não interessa. O pai de todo mundo da nossa geração tem uma história de guerra que serviu para contar. E isso acaba inspirando as novas gerações que não fogem a luta se necessário, pois como sempre repetem “não são covardes”. A naturalidade que convivem com armas, me assustava muito no início. Adoram tirar fotos de bebezinhos com armas do lado (a foto que a mamãe coloca no porta retrato), todo motivo de alegria é motivo de distribuir uns tiros pro alto, seja onde for, e até nas escolas fazem teatrinhos no final do ano com armas de verdade descarregadas. Nas quais os pais aplaudem com todo orgulho na plateia.


É também presenciar discussões do tipo “afinal, a mulher tem ou não a mesma capacidade intelectual do homem?”. E testemunhar a grande maioria afirmando de que obviamente não. É mais que tudo um exercício de paciência, de se calar, e lá no fundinho agradecer por ser brasileira e simplesmente não precisar discutir isso. (Não digo que todos têm essa mentalidade, ok?).


É se acostumar que os homens estão todos na rua enquanto as mulheres estão em casa, e aprender e se surpreender que elas não estão nem um pouco incomodadas com isso.


É viver em um país em que bebida alcoólica é praticamente um tabu, e todos vivem tranquilamente sem isso.


Mas acima de tudo, é viver em um país de gente que sempre tem um sorriso no rosto, boa vontade de ajudar, uma palavra para te animar e um “inshallah” na ponta da língua para te responder.


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