Como foi meu casamento no Egito
Frente a página em branco, fico pensando como começar esse texto. Na verdade, tento entender onde tudo começou. Talvez na Grécia, talvez quando eu estava no Brasil e distantes, decidimos nos casar, ou quem sabe em outra vida. Só sei que um post apenas, é muito pequeno para contar como foi meu casamento.
Não pense que é pela riqueza de detalhes e preparo, as flores, a música, meu vestido, nada disso. Um post é muito pequeno para detalhar a sucessão de imprevistos, improvisos e surpresas, que se repetiram nos nossos 3 casamentos. Sim, nos casamos 3 vezes.
O primeiro deles, sem dúvidas o mais insano. Já havíamos decidido nos casar há um tempo, e já tínhamos quase todos os documentos preparados. Entretanto, a intenção era marcar com calma, decidir onde seria para que ambas as famílias pudessem participar, afinal sou brasileira, ele egípcio e morávamos na Grécia nessa época.
Tínhamos uma viagem marcada para o Egito, na qual ele embarcou uma semana antes de mim, e lá providenciaria uma espécie de união estável, que nos possibilitaria nos hospedar no mesmo quarto de hotel, afinal em um país muçulmano tal feito não é possível para casais que não tenham contrato de casamento (regra não aplicada a turistas, apenas quando um deles é egípcio).
Ao consultar o advogado em relação ao contrato, ele descobriu que os papéis que tínhamos eram suficientes para realizar uma modalidade de casamento existente no país, que embora não fosse o oficial no civil, e não tivesse validade fora do país, no Egito contaria como casamento. Ele me ligou 2 dias antes da minha ida ao Cairo e perguntou: “Os papéis que temos dá para fazer o casamento. Você quer casar de uma vez? ”. E completou: “Responde rápido que a bateria está acabando.”.
Aceitei. Minha única condição foram as alianças, já que em 3 dias não dava para preparar nada além disso.
Fui para o Egito com algumas amigas brasileiras e no ritmo frenético das visitas e turismo, não tivemos tempo de discutir nada em relação ao casamento. Nada mesmo. Uns meses antes, ele havia conversado com meu pai via Skype e pedido para se casar comigo, o meu pai disse que sim, e não fez nenhuma exigência, afinal, que pai brasileiro faz?
No dia do casamento, fomos visitar o mercado do ouro, e uma das amigas brincou em relação ao “meu ouro”, o dote que ele não havia comprado. Para gente, isso é apenas uma brincadeira. Mas no Egito isso é levado a sério, as famílias negociam o ouro ou simplesmente não tem casamento. Os brasileiros riram da brincadeira e os egípcios surtaram. Falavam que eu era uma interesseira, que só estava pensando no ouro, que meu pai não tinha exigido nada. E eu tentava explicar, que eu não tinha nada a ver com a brincadeira, e a aliança que eu queria era pelo simbolismo e não pelo ouro em si, como é no Egito. Cada um com sua configuração mental e ninguém conseguia se entender. Horas antes do casamento e uma confusão generalizada. Ligamos para o advogado e cancelamos. Casamento e passeio arruinado.
O fatídico passeio que ninguém se entendia e eu só chorava
Quando fomos para casa à noite, e pudemos conversar a sós, é que entendemos o ponto de vista cultural do outro e morremos de rir da situação. Ligamos para o advogado pela manhã, e remarcamos o casamento para a noite. Finalmente saímos para comprar as alianças da discórdia.
A bendita!
Íamos comprar roupas novas para o casamento, mas o advogado ligou adiantando o casamento. Vai de roupa velha mesmo. Fomos para casa tomar banho, não tinha água. Vai sem banho. Uns vizinhos trouxeram uns baldes e nos viramos com o que tinha. Precisávamos de duas testemunhas que fossem homens e muçulmanos, não tinha ninguém. Vai sem testemunha. Ops, não dá! Pendura no telefone e liga para todos os amigos, primos, conhecidos... todo mundo trabalhando. Tínhamos um, mas que não poderia ser padrinho, pois o advogado ligou avisando que a gente precisava levar um tradutor que não fosse o noivo. Promovemos o padrinho a tradutor. Tudo muito organizado!
Na falta de padrinhos próximos, o jeito foi sair na rua e pegar quem estivesse de bobeira para levar. Resultado, meus padrinhos de casamento: um tem 2 esposas, e o outro tem a foto de perfil com uma metralhadora. Não me soou como o melhor dos presságios, mas era isso ou nada.
Nós e nossos padrinhos improvisados
Fomos para o advogado que é quem faz esse tipo de contrato de casamento. Eu, meu marido, o amigo padrinho tradutor, os padrinhos de última hora, e a segunda esposa de um deles, japonesa, que eu nunca tinha visto na vida e hoje é uma grande amiga. Não entendi quase nada do que se passou na cerimônia do meu casamento. Apenas o contrato que foi traduzido para mim. Bastava. E a parte mais difícil para mim era reproduzir as palavras que eu precisava dizer em árabe para confirmar o casamento. Eu simplesmente não conseguia pronunciar, e o advogado simplesmente se negava a continuar sem que eu pronunciasse certo. Dez minutos de tentativas para pronunciar uma frase, desespero no meu rosto, e o Sedik e demais pessoas se segurando para não rir. Tudo muito romântico!
Tentando pronunciar o impronunciável
Tradicionalmente no Egito, o rito do casamento deve ser procedido de muito barulho, que quem faz são as mulheres. Quanto mais barulho, mais sorte. A única mulher era japonesa, preocupadíssimos com isso, nossos padrinhos fizeram as vezes, e desencadearam a barulhada, desorganizada e sem ritmo, mas cheia de boas intenções. Por sorte, temos registro de todos os momentos, pois japonês sabe como é, não perde o clique.
Terminamos no advogado, e corremos para casa para fazermos as malas, pois viajaríamos para Sharm El Sheikh umas horas depois. Tudo que se espera de uma noite de núpcias!
Mas se você acha que o que leu já é demais, escuta essa. A minha família não sabia que eu estava me casando. Eu ligava para todo mundo, mandava mensagem no facebook e whatsapp, mas ninguém via, pois era período de Natal e réveillon e a família inteira estava em um sítio sem internet e sinal de telefone. Como não conseguia avisar, casei assim mesmo. Minha mãe descobriu que eu tinha me casado pela minha atualização no facebook, na qual ela fez questão de comentar abaixo de muitos parabéns e votos de felicidades: “Como assim, Michelle? Por quê casou sem nos avisar? Me liga urgente!”. Ponto alto do casamento, a reação da família da noiva. Tudo explicado, ela entendeu a situação e que precisaríamos fazer outro casamento, o oficial no civil, que aí sim seria como esperado.
Lua de mel em Sharm El Sheikh
Na verdade, esse outro casamento já foi feito, e também um terceiro na embaixada brasileira, e até hoje não cumpri a promessa feita a minha mãe. Ambos também foram cheios de histórias mais dignos de enredo de comédia, do que de romance, que quem sabe eu conte em um próximo post. Ainda falta um casamento, o registro da certidão em um cartório brasileiro. Estamos guardando esse, como uma oportunidade de enfim fazer um casamento organizado e romântico. Uma boa oportunidade para uma festa.
Ainda não animamos, até por que adoramos a história do nosso casamento e não queremos substitui-la por nenhuma outra. Se me perguntassem há dois anos qual seria meu casamento dos sonhos, jamais diria como foi, mas hoje tendo vivido desse jeitinho, não trocaria por nenhum outro. Foi nosso, foi único, e se não fosse com uma pitada de loucura, não seria Michelle e Sedik.
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