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A saga do AFM (documento grego)

Burocracia é uma palavra que assusta qualquer um. Eu pensava que a burocracia brasileira se figurava entre as piores do mundo, até conhecer a grega. Parafraseando um amigo, o serviço público no Brasil e uma mer*@, mas o da Grécia pra ser uma mer.*@, vai ter que melhorar muito.

O primeiro contato que eu tive com as repartições públicas gregas, foi quando precisei fazer um documento chamado AFM (lê-se: A F Mi), uma espécie de CPF, para eu pudesse abrir uma conta no banco de lá.


A empresa que eu trabalhava, me informou que eu deveria ir a um determinado endereço as 8 da manhã com determinados documentos para fazer. Na noite anterior meu marido, que na época era namorado, falou que iria comigo porque eu não daria conta sozinha. Fiquei indignada, "está me chamando de idiota?". Não, ele não estava me chamando de idiota, ele só conhecia a "eficiência" grega.


No dia seguinte saímos cedo de casa, e a partir daí protagonizamos uma manhã digna de novela. Fomos até certo ponto de metrô e de lá pegamos um táxi. Antes de entrar no táxi, o Sedik resolveu comprar um Frapê. Eu sei que quando entramos no taxi, o negócio virou, e o que era um copo parecia um balde derramando, tudo no colo dele que estava de Bermuda branca e no táxi do homem, que enfurecido parou no meio da rua, a gente tentando limpar e tal. Fomos para o prédio com tudo sujo e obvio ele não podia descer, me deixou lá e continuou para casa no taxi. No que o taxi sai, eu lembro que a chave de casa estava comigo, ligo para o celular dele, ele tinha esquecido em casa. Pensei, ele vai voltar para buscar a chave.


Aí entrei no prédio que era exclusivo para atendimento de estrangeiros, e não tinha uma placa em inglês. Tudo era em grego. E os únicos 10 gregos que eu conheci na vida que não falavam inglês trabalhavam lá. Parecia piada. Com muito custo, descobri que eu tinha que ter chegado as 7 e não as 8, então já era. Como não gastei nem 10 minutos lá dentro, peguei um taxi e fui correr atrás do Sedik antes que ele voltasse.


Enquanto isso, no outro taxi em que o Sedik estava, o homem parou para deixa-lo e queria cobrar 50 euros extra para a limpeza. Era justo pagar pela limpeza, mas não 50 euros, porque uma lavagem de interior não passa de 20. Começaram a discutir e a polícia que estava perto veio intervir. A polícia pediu que eles fossem para uma rua menor ao lado resolver, porque estavam atrapalhando o trânsito. No que eles vão para essa rua do lado, o meu taxi para e eu não o vejo. Corro para casa, ele não está na porta. Entro em casa para esperar. Enquanto estou lá dentro, ele chega na porta, lembra que não tem chave, não faz ideia de que eu já estou lá, volta todo sujo lá no tal prédio, não me encontra.


Daí eu penso, que ele deve ter ido para casa dele, porque nessa época ele mantinha um apartamento dele, pego uma roupa limpa dele (porque lá não tinha mais nada), e vou para lá. Por coisa de 2 minutos a gente não desencontra de novo. Nunca vou esquecer, a cena dele vindo andando todo sujo e de perna aberta porque estava cheio de açúcar. Hahahhaha. Isso tudo antes de pegar no trabalho as 10h! Saga do AFM parte 2


No dia seguinte me preparei para voltar as 7h. Mas o Sedik não acordou por nada e fui sozinha. Cheguei lá, o negócio estava fechado e tinha uma tia, anotando a ordem da chegada das pessoas num pedaço de papel de pão, sentada na beirada do meio fio. Achei que nem fosse oficial (era!), mas fui lá dar meu nome para ela. Detalhe, ela não aceitava meu nome como ele era, ela queria por que queria no alfabeto grego. Por sorte, eu tinha aprendido isso dois dias antes para soletrar para ela. Meu nome fica esdrúxulo em grego porque eles não tem o "ch", tem que ficar "Misselle", e nem o "q", que vira "Markes", mas tudo bem, ela queria. Daí quando eram 8 horas, ela começa a gritar nome por nome, e entregar um número. Genteee, o número era num papel que nem cortado a tesoura foi, com letra indecifrável, e uma assinatura atrás que conferia a autenticidade do negócio. Super profissional, né. E quando ela me entregou o papel ficou repetindo "sei lá o que, deca" em grego, e ficava brava porque eu não entendia. Gente, eu estava em um prédio público só para atender estrangeiros, porque será que eu não entendia? Eu só entendia deca que é dez, mas meu numero era 82, hahah.


Aí um pessoal traduziu para mim que era para eu voltar as 12h, confirmei isso com umas duas pessoas. Fui para casa esperar. Mas resolvi voltar as 11h por segurança. Quando cheguei as 11, a minha senha já tinha passado. E aí a fila começou a discutir se eu deveria passar na frente de todo mundo já que minha senha era antes, se eu deveria entrar no final, ou se eu simplesmente tinha perdido a vez. Mas eram umas 15 pessoas discutindo e gritando, em grego. Eu sabia que era a meu respeito, mas não fazia ideia do que exatamente para me defender. O problema foi a hora que um homem começou a me puxar para o final da fila, e uma outra menina gritava e me puxava para a frente, e um outro homem ameaçava a ir para cima do cara que me puxava, parece que ele mandava ele me largar. E os funcionários todos assistindo sem colocar um ponto final na história, tipo, deixa o "pau quebrar". No final, eu sei que me mandaram passar na frente de todo mundo. O cara do guichê "não" falava inglês, ou melhor, estava com preguiça, porque ele entendia tudo que eu falava, o formulário era em grego. Aí o mesmo cara que me defendia, veio me ajudar a preencher. Quando voltei, o cara do guichê, falou que eu precisava de mais uns 3 documentos que eu não tinha e que não poderia fazer. (Mentira, eu fiz no dia seguinte com os exatos documentos que eu tinha levado).


Saga do AFM parte 3


Voltei para empresa e disse que não tinha como fazer isso sozinha, por causa do grego e tal. A funcionária do RH simplesmente disse que esqueceu que tinha que mandar alguém comigo, que no dia seguinte ia mandar. No dia seguinte mandou um cara lá comigo. Pra não perder a hora de novo, resolvi não ir para casa e esperar minha vez lá. Detalhe, dessa vez minha senha era 70, e só fui atendida às 2 da tarde, no verão, sem nem um ventilador e nem água, esse tempo todo esperando, para o cara fazer o negócio com o mesmo formulário e documentos que entreguei no dia anterior, brincadeira!

Trauma eterno de repartições públicas gregas.

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